Santo Agostinho e a Finalidade da Filosofia

Filosofia

Santo Agostinho, em sua obra “De Civitate Dei” (XIX, 1, 3), declara: “Não há razão para o homem filosofar a não ser a bem-aventurança; e o que faz com que este seja feliz é o fim bom; não há, por conseguinte, nenhuma causa para o filosofar, salvo a meta do bem; por essa razão, aquela que não segue o fim bom não pode ser dita seita filosófica.” Esta afirmação profunda sugere que a filosofia não é apenas um exercício intelectual abstrato, mas um meio para alcançar a felicidade verdadeira.

Santo Agostinho: Além da Abstração

Frequentemente, pensamos na filosofia como um saber abstrato e especulativo, distante das preocupações práticas da vida humana. No entanto, a filosofia, em seu sentido mais profundo e originário, não se limita a um simples “fazer teorias”. Ela não é um conhecimento desencarnado, sem impacto em nossa vida cotidiana. A sabedoria filosófica foca em dois aspectos fundamentais da realidade que o mundo moderno, iludido pelo materialismo e cientificismo, frequentemente desconsidera: o fim e a felicidade.

O Propósito Último e a Felicidade

Para os antigos e medievais, a filosofia raiz tinha como objetivo máximo identificar o fim e o sentido das coisas, incluindo o próprio homem. O conhecimento da verdade não se separava da vida moral e da busca pela vida boa e feliz. Platão, por exemplo, comparava a decisão por uma vida intelectual a uma conversão, uma jornada que pode ser vista como uma ascensão da alma, saindo da caverna da ignorância em direção à contemplação do Bem em si, o princípio e causa de todas as coisas.

A Busca Universal pela Felicidade

Todos buscamos a felicidade e desejamos alcançar este objetivo supremo. No entanto, os bens limitados ao nosso alcance jamais satisfazem plenamente nossa sede de felicidade. Inconscientemente, sabemos que o bem particular, este objeto de desejo imediato, é apenas um reflexo limitado do Bem em si. O limitado se move no horizonte do ilimitado. Nosso desejo pelos bens particulares é uma expressão daquilo que é nosso fim último: Deus.

O Papel da Filosofia

Para Santo Agostinho o papel da filosofia é tornar isso explícito. Ela nos guia na compreensão de que nosso anseio pelos bens terrenos é, na verdade, um reflexo de nosso desejo pelo Bem absoluto. A filosofia, assim, não é apenas uma disciplina teórica, mas uma prática que orienta nossa vida em direção à felicidade verdadeira e ao bem supremo. Como disse Santo Agostinho, filosofar é buscar a bem-aventurança, e esta busca só pode ser considerada genuína se estiver orientada pelo fim bom, que é Deus.

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Filosofia e Vida Prática

Santo Agostinho nos convida a reconsiderar a filosofia como uma ferramenta essencial para a vida prática, não apenas uma atividade intelectual isolada. Ele argumenta que a filosofia deve servir para guiar nossas ações e escolhas diárias em direção ao bem maior. Isso implica que o estudo filosófico deve estar intimamente ligado à nossa ética pessoal e à maneira como vivemos nossas vidas.

Filosofia como Conversão

A decisão de seguir um caminho filosófico, segundo Platão e endossada por Agostinho, é semelhante a uma conversão. É um movimento da alma em direção à verdade e ao bem. Este processo de conversão filosófica nos leva a questionar nossas suposições, a examinar nossos valores e a buscar um entendimento mais profundo da realidade e de nosso lugar nela. É uma jornada contínua de autoaperfeiçoamento e busca pelo conhecimento que nos liberta das ilusões e nos aproxima do bem supremo.

A Filosofia na Modernidade

No contexto moderno, onde a ciência e o materialismo frequentemente dominam, a filosofia tem um papel crucial em nos lembrar da importância dos fins últimos. Ela nos desafia a olhar além do imediato e do tangível, e a considerar o impacto de nossas ações e escolhas no contexto de uma busca mais ampla pela verdade e pela felicidade. A filosofia nos oferece uma perspectiva que pode enriquecer nossas vidas, proporcionando um sentido de propósito e direção que transcende as preocupações cotidianas.

Santo Agostinho nos oferece uma visão da filosofia que é tanto prática quanto profunda. Ele nos lembra que a verdadeira finalidade da filosofia é a busca pela bem-aventurança, e que esta busca deve ser orientada pelo fim bom. A filosofia, portanto, não é apenas um exercício intelectual, mas um guia para a vida, uma prática que nos orienta em direção à felicidade verdadeira e ao bem supremo. Em um mundo frequentemente dominado pelo materialismo e pelo cientificismo, a filosofia continua a ser uma luz que nos guia em nossa jornada em direção à verdade e ao bem.

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